terça-feira, 13 de setembro de 2011

Escala

* Ao mestre Chico, com carinho.






Doem as chagas
Ressoam as tapas
Mirram-se os ossos
Falta o ar
Solidão
Lado transpassado
Sinistra morte
Dolorosa Cruz
Silencia o mundo
Lamentam alguns
Sol a nascer
Faz-se um novo dia
Misterioso dia
Ressuscita o Cristo
Dominus Dei

E assim, nasceu a escala que os músicos do mundo todo brincam de escalar. E escalarão, alcançando as Alturas, se ressoar em seus corações o compasso da Unção.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Onisciência

Ah, Senhor, como eu queria ter ciência de todas as coisas! Ter o conhecimento de todos os fatos, de todos os atos, de todas as artes, de... Não! Não quero isso! Pois quem tem o conhecimento de tudo, conhece a fatídica hora da visita da morte. Pra quê ter no relógio esta hora marcada? A vida não seria vivida em momentos, em gotas, como deve ser! Ela estaria resumida a uma terrível contagem regressiva. Uma sucessão angustiante de segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, vidas. Sim, vidas! Pois eu também teria o conhecimento da hora da partida de todos aqueles que me cercam.

Diante desta constatação, mudo o discurso dizendo: Livrai-me, Senhor, da ciência de todas as coisas! Deixo esta sabedoria suprema a Vós, que é Supremo. Dá-me apenas o discernimento do que é bom e do que é ruim, para que, se for bom, que eu continue e, se for ruim, que eu desvie. Dá-me o conhecimento do que é pecado, pra que eu não venha a pecar. Dá-me o conhecimento do que é Graça, pra que eu não venha a me desgraçar. Eis a onisciência humana, tudo o que nós, Filhos Teus, precisamos. Saber o que é bom e saber o que é ruim. Isso basta. 

Atendei-me, Senhor! Amém!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Felicidade

Estou feliz, muito feliz! De posse da Marreta do Arrependimento, que estava jogada num canto do meu quarto há tempos, derrubei a enorme muralha que me separava da Salvação. E cada golpe dado, cada tijolo derrubado, era um alívio que meu coração sentia. Como é bom respirar o ar do perdão! E pela força da palavra "Reconciliação", desmoronou, por completo, a antiga construção. Está no chão, seu devido lugar, para ser pisoteada a pés descalços, pelos Filhos da Unção.

E a Felicidade estava lá, sufocada pelos alicerces que desmoronaram. Agora pode dar o ar de sua Graça! Felicidade encontrada em um simples ato. Não foi necessária a aquisição de nenhum bem material. Para sermos felizes, não precisamos de um carro novo, de uma roupa nova, de um sapato novo, enfim, da alegria passageira dos bens materiais. Meros produtos, limitados pela ação constante do tempo, e dos contratempos. A Felicidade Verdadeira é ilimitada. Não se prende a cronologia, nem a dinheirologia. É dom gratuito, disponível a todos que estejam dispostos a rasgar o véu negro das próprias vontades.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Impedimento

Soa o apito abrupto! E mais abrupta ainda é a minha parada. Estou impedido! Tanto treino, tantas horas vividas em busca do melhor condicionamento para bem jogar o que precisa ser jogado e, por conta de um pequeno deslize... Impedimento! Avancei na hora errada. E não foi por agora. O meu avanço aconteceu antes deste momento. Avancei as linhas delimitadoras do pecado, e pequei! 

Agora, de cara para a meta, pertinho, não posso concluí-la. O apito ressoa nos meus ouvidos. Ressoa também na minha boca. Sim, na minha boca, pois o sopro que faz o apito gritar parte dos meus pulmões! Sou árbitro das minhas próprias ações! E mais ainda ressoa a tristeza no meu coração, por não poder fazer parte da lista de artilheiros da Salvação. Meu Técnico deve estar desapontado. Meus santos companheiros de time também.

Nesta partida, partido está o meu coração, pois o zero a zero é o final esperado. Mas não desanimo! Engulo este placar sentindo o gosto do arrependimento. Arrependimento que me levará ao desimpedimento. Quando o centro do campo for apontado pela última vez, sinalizando o fim, correrei ao vestiário para tomar o banho da Reconciliação. E reconciliado, confessado, perdoado, ah, não existirão empecilhos nas próximas partidas! Poderei alcançar a intermediária num segundo, recebendo o primoroso lançamento da Graça, ouvindo o agradável som da torcida pronunciando: "O Corpo de Cristo!" - Responderei com um sereno e vitorioso "Amém!".

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sentindo (Vontades)

Sentindo vontade de criar,
sentindo vontade de ler,
sentindo vontade de escrever,
sentindo vontade de num sei o quê.

Sentindo vontade de rabiscar,
sentindo vontade de pintar,
sentindo vontade de colorir,
sentindo vontade de descolorir.

Sentindo vontade de correr,
sentindo vontade de parar,
sentindo vontade de sorrir,
sentindo vontade de chorar.

Sentindo vontade de algo sentir,
sentindo vontade de tudo sentir,
sentindo vontade de nada sentir,
sentindo vontade de só sentir.

Sentindo vontade de semear,
sentindo vontade de crescer,
sentindo vontade de florir,
sentindo vontade de amadurecer.

Sentindo vontade de reviver,
sentindo vontade de relembrar,
sentindo vontade de esquecer,
sentindo vontade de apagar.

Sentindo vontade de veranear,
sentindo vontade de nadar,
sentindo vontade de navegar,
sentindo vontade de só ver o mar.

Sentindo vontade de reagir,
sentindo vontade de não agir,
sentindo vontade de sair por aí,
sentindo vontade de ficar por aqui.

Sentindo vontade de me abrir,
sentindo vontade de falar,
sentindo vontade de calar,
sentindo vontade de só ouvir.

Sentindo vontade de não ter vontades,
sentindo vontade de rezar,
sentindo vontade de me prostrar,
sentindo vontade de Adorar.

Sentindo vontade de tomar um café,
sentindo vontade de me levantar,
sentindo vontade de não mais escrever,
sentindo vontade de parar por aqui...

O café tá esfriando!