quinta-feira, 30 de junho de 2011

Voz

Que Voz é essa que vive dentro de mim?

Cria-me, Voz, pois és a única Voz que pode, pela Força de Tuas Palavras, do nada tudo criar.

Forma-me, quando do nada me tiveres tirado e em estatura, Sabedoria e Graça faz-me crescer.

Canta e encanta o meu ser que já não canta, pois se encantou com os cantos que impedem de a Ti cantar.

Fala ao meu desenfreado querer todas as Bem-aventuranças que provêm do Teu supremo Querer.

Grita e ecoa pelas cavidades ocas da alma que insiste em preencher-se com o nada que a vida com "v" minúsculo teima em oferecer.

Cala-Te diante das minhas faltas, pois o Silêncio de Tua desaprovação é o deserto que preciso viver para voltar a Te escutar e Te obedecer.

Chama-me, quando o doce som de Teus Santos Lábios eu voltar a ouvir.

E quando enfim voltar a Te ouvir, no baú dos teus verbos vou querer mergulhar, para buscar o "Viver", o "Criar", o "Formar", o "Crescer", o "Cantar", o "Encantar", o "Contemplar", o "Ser", o "Falar", o "Querer", o "Gritar", o "Ecoar", o "Preencher", o "Oferecer", o "Calar", o "Escutar", o "Obedecer", o "Chamar" e o tão sonhado "Guiar". E ao encontrar este último, guia-me, Voz, ao Verbo que se fez carne para nos ensinar o Verdadeiro e único sentido do divino verbo "Amar".

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mudança

Cansado de uma vida de andanças
e deste imenso redil de inseguranças,
declaro aos regentes desta dança: estou de mudança!

Ponho nas costas a mochila da esperança,
carregada com minhas melhores lembranças
e com uma sutil e inexplicável Confiança.

Parto em busca de uma herança
que sei, tenho direito, desde a mais tenra infância
e que não é só mais um sonho de uma sonhadora criança.

Lanço-me no caminho que quase ninguém se lança
por medo, orgulho ou falta de temperança
ou por qualquer outro motivo que me foge a lembrança.

E eis que surge, em forma de Homem, a referida Confiança
trajando um manto branco, portando um cajado e falando bem calmo:
Quero restabelecer contigo uma antiga Aliança!

Fitando-me nos olhos, continuou a falar:
Eu Sou o que Sou, eterna Bonança, infinita Segurança
e tu és a minha tão sublime Imagem e Semelhança.

Esqueça, a partir de agora, os antigos versos,
as velhas estrofes e as más palavras que te afligem ainda.
Na poesia da tua Vida, deixa que Eu faço a rima:

Vou te guiar a um Lugar,
sua morada lá será,
siga os meus passos e juntos vamos chegar.

Chamando-me pelo nome, pôs-se a caminhar
e eu, ouvindo a Sua Voz, deixei-O me levar,
como uma ovelha, tão dependente, ansiosa para pastar.

Enfim, chegamos ao tal Lugar. Deixando-me descansar, pôs-se a falar:
Meu filho, aqui não há dor, não há temor, não há desamor.
Aqui, minha querida ovelha, é o coração do Bom Pastor!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Volta


Voltando de uma das voltas das loucas voltas que a vida dá,
volto-me Àquele que está sempre voltado para os filhos,
sem importar-se com as tresloucadas voltas que voltamos a dar.

E nesta reviravolta em que volto a viver com o Cristo envolto,
deixando de viver uma vida de revoltas,
volto a sonhar com o dia da minha volta à Divina Casa, para de lá nunca mais voltar.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ama

Ave, plena da Unção,
digo eu que não sou um anjo,
mas admiro a tão sagrada Saudação!

Ama de leite dos Filhos do Alto,
livrai-nos dos percalços deste mundo de muitos laços
e conduz-nos aos Braços do nosso Cristo, teu Regaço.

Ama que ama e que,
de tanto amar, deixa de ser uma simples ama
e torna-se a Mãe que tanto ama. Eis aí a nossa Mãe!

Ventre da Unção,
Morada santa do Divino Embrião,
Berço solene da nossa Salvação.

Ave, plena dos mais sublimes Apelidos,
Nossa Senhora, Cheia de Graça, Onipotência Suplicante,
Virgem Mãe, Mãezinha do Céu, Mãe, Maria de Nazaré, Maria de todos nós!

domingo, 19 de junho de 2011

Parque de Emoções

Deitado sobre o colchão de emoções,
ergo os braços aos céus e tento puxar as nuvens como se fossem doces algodões,
prontos para adocicar as infantis aspirações.

Mas não são os algodões que minha alma infante realmente anseia,
e sim a Eterna Doçura
que está por sobre a Celeste areia.

Corro para o carrossel das ilusões e,
nas voltas que ele dá, caio dos belos alazões
desprovidos de arreios e das demais sustentações.

E desviando do restante da manada,
subo a russa montanha
buscando uma visão privilegiada da Santa Morada.

Mas quando atinjo o cume, carros alucinados me lançam ladeira abaixo,
fazendo loucos traçados, deixando-me enjoado,
com a vida de cabeça para baixo.

Vejo então, com olhos de criança, 
a gigante roda e animo-me,
pois me faz lembrar a eterna Aliança.

Tomo então assento na referida estrutura
e rapidamente alcanço
as sonhadas Alturas.

Mas com raiva então eu choro
quando a roda roda
e ao solo eu retorno.

E ainda aos prantos,
a dolorida pergunta eu lanço:
Por que o Céu não alcanço?

Eis que surge o Dono do Parque,
com o rosto pintado, nariz de palhaço, em cada mão um buraco
e falando aos bocados:

Querida criança,
não perca a Esperança,
a vida é uma dança!

Tome o meu Braço,
segure o meu Laço,
siga os meus Passos.

E não se apresse.
Pra mim, o tempo não fenece.
Faça sua prece, ajude o que carece, ame o que não merece.

Assim, verás o Céu que não escurece,
o Parque que ninguém esquece
e a Vida que nunca envelhece.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Chuva

Acompanho com espanto e admiração a aproximação da massa de nuvens cinzentas, carregada pelo Vento leste que sopra forte e impetuoso.

Escoltada por raios e trovões, a imensa e escura carruagem, num ritmo galopado, toma o Céu de uma ponta a outra, pondo o Sol às suas costas, escondendo-O de toda a humanidade. Pelo menos de toda aquela humanidade que habita a minha rua!

Voando voraz vem o Vento e logo tudo o que é "v" vira "f" fazendo as folhas das figueiras farfalharem com força num fantástico fffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffff.

O Sol, cocheiro oculto da massa de nuvens, toma o trovão como microfone e solta sua poderosa voz: Eis o meu Filho muito amado, em quem pus toda minha afeição! Provai-O! Despenca então dos Céus o Filho em forma de gotas, derramando-se por completo para lavar da terra todas as nossas sujeiras.

Tomando total consciência do fato e tendo a real compreensão de todas as coisas, corro feliz a minha casa, escancaro a porta da frente e grito: Está chovendo Graça!

Rapidamente, com baldes, tambores, cabaças e outras aparaduras, toda a vizinhança põe-se na rua, pulando, brincando, dançando e fazendo firulas. E a você, que teme as nuvens escuras, deixo a seguinte pergunta: Vamos tomar banho de Chuva?

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Colo

Na noite fria e sem consolo,
corro em busca do teu colo
e deito sobre ele a alma que arde após o dolo.

Na teia das culpas caio como um tolo
e, atropelado pelas emoções em rolo,
sou tomado pela angústia do desconsolo.

Recebo então as carícias do teu maternal protocolo
e logo meus pés já não sentem o solo,
pois em sublimes pensamentos decolo.

E neste vôo, tendo teu manto como apoio,
alcanço o Coração do Divino Consolo,
onde colo meu dolo e obtenho o óbolo do Perdão Prazeroso.

sábado, 11 de junho de 2011

Fome

Café da manhã reforçado: uma fatia de pão, queijos brancos, frios à base de carne de aves, leite desnatado, frutas diversas e suco de laranja com aveia. Lanche das nove com três biscoitos sem recheio, frutas e líquidos à vontade. No almoço, folhas verdes, vegetais crus, duas colheres de sopa de feijão, duas colheres de sopa de arroz, um pedaço de bife na chapa e frutas da estação para acompanhar. No lanche das quinze, dois pãezinhos de queijo com um copinho de suco. No jantar, uma sopinha vegetariana acompanhada com pães e um pequeno pedaço de peixe grelhado. Dieta recomendada pelos melhores nutricionistas e por outros profissionais afins. Mas nada disso ameniza a louca fome que me angustia já há alguns dias. Cansado e fraco, tomo uma atitude extrema: volto à mesa que há muito não ia, devido à correria desta vida de idas e vindas.

Após o banho e o jantar que não sacia, adentro ao meu quarto e tomo assento na rede branca, sempre presente nos lares cearenses, onde será o local da ceia. Eis-me aqui, digo fazendo o Sinal da Cruz! Logo chamo Aquele que irá servir a mesa: "Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o Fogo do Vosso Amor..." E Ele não tarda! Sempre no tempo certo. Tempo que é dEle.

Mesa posta, à luz de velas? Não, Luz do Mundo! Uma pitada de Sal da Terra. Abro então a Palavra! Sagrado alimento, da alma um sustento. O Pai e eu, numa comum e santa união. Servindo, o Santo Espírito. Garçom que conhece os nossos pratos preferidos, ainda que nós não os conheçamos. Restaurante sempre aberto, comida sempre quentinha, aguardando as almas famintas virem saciar as suas mais íntimas, e muitas vezes desconhecidas, necessidades.

Após essa maravilhosa Refeição, despeço-me do Senhor e lanço-me nos braços do sono, sabendo que Ele não irá a lugar algum, pois ficará velando os meus sonhos. E aos prudentes de plantão, digo: Não precisa aguardar a digestão! Ela ocorre naturalmente, no coração de todo bom cristão!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Bem-aventurada aventura

Nas desventuras desta vida de amarguras,
me ponho a fazer loucuras que,
porventura, não me competem.

E as faço com a divina permissão
que me permite, até mesmo,
ferir o Divino Coração.

E na aventura da busca de minha Redenção,
encontro-me com a Bem-aventurada, Virgem repleta da Unção.
Ave, Cheia de candura! Enlaça-me no teu regaço de ternuras e lança-me nas Formosuras do ferido Coração.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Passos

Passo,
passo,
passo,
passo...

Outro passo,
mais um passo...
e em cada passo, um passo
neste divino e humano compasso.

Assim vou seguindo
no longo caminho
que se faz em cada passo,
numa sequência indefinida de passos.

Surgem então os percalços,
que me prendem em seus laços,
e em lágrimas me desfaço.

Mas logo surge um Braço,
que rompe as cordas de aço,
e no Seu Abraço me refaço.

Nele então me enlaço,
as botas do pecado eu descalço
e, descalço, continuo os passos.

Ultrapasso a dificuldade,
ultrapasso o obstáculo,
ultrapasso a tempestade.

Só não ultrapasso a Graça
que revela meus traços de Filho do Alto
e que me dá Forças para continuar meus passos.

E vou seguindo: passo, passo, passo,...