terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Vida












Esse tempo,
Esse Vento,
Esse banco,
Esses passarinhos...
Ah, como é bom viver assim!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Andanças











O Sol nasce forte, majestoso.
O vento sopra rumo Leste.
E meu barco segue nesta direção.
Cheiro bom de mar.

Navego tanto para o Leste
Que alcanço o Oeste.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete...
Nem sei quantos mares atravesso.

Sem perceber, desenho a linha do Equador.
Terras médias, pequenas e grandes,
Lares, ruas e bares.
Muitas pessoas conheço:
Mocinhos e vilões,
Monstros e aberrações.
Espadas, escudos, canhões,
Guerra e Paz!
Ah, como é bom virar a página!

No mundo mundo vasto mundo drummondiano vou passando,
Clariciando as idéias,
Quintanando a alma,
Hasteando bandeiras manuelais,
Afernandando pessoais,
Viniciando as morais e o Moraes,
Até chegar as Minas da imaginação,
Ou quem sabe as Gerais adeliais,
Apanhando, com mãos secas, cacos de vitrais.

Entrando em clima de oração,
Me transporto a Terra Santa,
Santa Terra que encanta.
Terra de Maria e de José.
Terra de uma Cruz que se levanta
E de outras que declinam.
Terei eu vindo buscar a minha?
Não importa.
Basta o Jesus que me ama.

Leitura, Meditação, Oração, Contemplação,
Lectio divina e humana.
Sagradas escrituras,
Terrenas aventuras.

E depois de todas estas andanças,
Olho para o relógio e tomo um susto!
Fecho agora o livro e apago a luz.
Hora de dormir,
Amanhã tenho que acordar cedo.
Boa noite!

Noite












Afasta-te, Noite
Que pra mim tu és um açoite!
Tu, cheia dos teus negrumes,
Das tuas escuridões.
Prefiro a escuridão amena do dia que amanhece.

Há apenas uma noite que me encanta,
Aquela quando tu te vestes de Luz,
Para aguardar o nascimento do Menino Jesus.
Magnífica Noite!
E bendito seja Deus por permitir que tu te vistas assim todos os anos,
Nos finais de Dezembro.

Por que não te vestes assim todas as noites?
O dia amanheceria melhor,
As pessoas amanheceriam melhores,
O mundo amanheceria melhor.

Noite feliz,
Dia feliz,
Pessoas felizes,
Mundo feliz!

Morte









A morte é uma nave espacial
Tripulada pelos Santos Anjos,
Comandada pelo Arcanjo Miguel,
Que nos conduz ao Paraíso escondido lá no Céu.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sina












Ah, Sina,
Ensina-me a ser Cristão

Ensina-me a despertar os irmãos
Adormecidos na vigília da noite

Ensina-me a dobrar os joelhos
Para melhor orar minhas orações

Ensina-me a beber dos cálices
Que não podem ser afastados

Ensina-me a suportar as supremas angústias
Ladeadas pelos azeites das ilusões

Ensina-me a suportar os falsos beijos
Dados em troca das pratas do mundo

Ensina-me a suportar as traições da vida
Provindas daqueles que amo

Ensina-me a suportar os açoites
Que arrancam pedaços da minha carne

Ensina-me a usar a coroa de espinhos
Que adorna as cabeças dos escolhidos

Ensina-me a suportar os injustos julgamentos
Que lavam mãos, mas não lavam corações

Ensina-me a carregar a Cruz
Que pende nas minhas costas

Ensina-me a caminhar pelo Calvário
Com os pés carentes de calçados

Ensina-me a levantar das quedas
Ainda que falte um Cirineu

Ensina-me a suportar os pregos do madeiro,
Antes estes àqueles que me prendem ao chão

Ensina-me a reconhecer a bondade
Dos tidos como malfeitores

Ensina-me a entranhar os vinagres
Que me servem para saciar minha sede

Ensina-me, sobretudo, a perdoar
aqueles que gritam: Crucifica-o! Crucifica-o!

Ensina-me, Sina, todas estas coisas.
E quando o último suspiro de minha humanidade
Estiver prestes a suspirar,
Quando a entrega do meu espírito
For tudo o que eu puder entregar,
Quando tu, ó Sina, se completar...
Cansaço, choro, murmuração?

Não!
Regaço, Consolo, Salvação!
O final de todas as coisas,
Final que não tem fim.
De uma vida de passagens
A uma Vida de ficagens
Eis a Sina do Cristão.

Prece












Senhor,
Hoje venho Te pedir:
Dá-me a graça de escrever,
De botar pra fora o que o Senhor quer ao mundo dizer,
De manchar o papel com as palavras que pulsam nas veias,
De deixar legível o ilegível do pensamento.

Senhor,
Por fim, quero também agradecer,
Pois não sou homem só de pedir:
Obrigado, Pai, pelo dom da leitura,
Pois ele me auxilia no que Te peço agora:
O dom da escrevedura.
Amém!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Gaiola










Passarinho,
Por que está triste?
É por causa do homem
Que não te deixa sair?

Ah, homem atribulado
Não vês o teu coração engaiolado?
Deixa o Passarinho sair,
Deixa Ele ser Pássaro,

Ser Sopro,
Ser Fogo,
Ser Espírito,
Ser Santo.

Deixa Ele voar,
Deixa Ele te dar asas.
Deixa Ele ser Espírito Santo
Que te leva a Deus.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Formiga









Que bicho é esse
Que paira sobre a minha cabeça?
Será uma idéia
Querendo sair?

É só uma formiga
Que asas criou
Anúncio de chuva
Pra um sertão que já secou.

Ó formiga amiga,
Com asas agraciada
Quem foi que te deu?
Foi o pássaro ferido?
Ou foi graça alcançada?

Ah, formiga amiga
Intercede por mim
Pra que eu também crie asas
E voe contigo
Sobre as cabeças que não tem nada.

Herói

Hoje acordei com sede de salvar o mundo. De levantar da cama num salto, vestir uma capa vermelha e riscar os céus em altíssimas velocidades, em busca das vítimas indefesas das intempéries da humanidade.

Mas não tenho super poderes. Não sei voar. Não alcanço grandes velocidades. No máximo uma corridinha. Breve, sem exageros. O médico disse que não posso abusar. A hipertensão que recebi de herança já bate à minha porta.

Também não tenho capa, nem máscaras. Não sou um super herói. Sou, no máximo, um herói. Anônimo. Igual a tantos outros por aí. Sem capas. Sem máscaras. Mas com um desejo ardente de ajudar, de lutar, de salvar.

E vou ajudar, vou lutar, vou salvar, armado com papel, caneta e com a força da palavra. Conto com o auxílio da Graça, que me torna super. Com Ela, posso voar, posso chegar às enormes distâncias. Posso, até, penetrar a mais intransponível das fortalezas: o coração do homem.

Convoco agora todos os heróis espalhados pelo mundo a lutar. E começo esta luta dizendo: Hoje acordei com sede de salvar o mundo...

Salvação

* A Amanda












Naquele tempo, a Salvação entrou no mundo
Na forma de um Menino,
Por meio de uma Mulher.
Naquele dia, a Salvação entrou no meu mundo
Na forma de um Menino,
Por meio de uma mulher.

Naquele tempo, o Menino cresceu
Apareceu, pregou, curou, transformou, renovou,
Amou! E por amor, se entregou
Numa Cruz pereceu
E numa Luz renasceu
Para nunca mais perecer
O Menino chamado Amor.

A partir daquele dia, o Menino cresceu,
Apareceu, caminhou, curou, transformou, renovou
Nas asas de uma borboleta se confirmou
De uma Cruz nasceu
Em sua Luz se fortaleceu
Para nunca mais perecer
O Menino chamado Amor.

Hoje, o Menino adulto
Nos conduz nos caminhos do namoro maduro
Dando à mulher, sua genitora, a graça de ser Maria
E a mim, o pai adotivo, a graça de ser José.
E a esta mulher, presente do Menino,
Companheira para toda uma vida,
Dedico uma imensidão de agradecimentos.

E dessa lista interminável de obrigados,
Respeitando a cronologia dos fatos,
Escrevo a ladainha abaixo:

Obrigado por ser desconhecida,
Obrigado por ser conhecida,
Obrigado por ser amiga,
Obrigado por ser caminhante,
Obrigado por ser borboleta,
Obrigado por ser namorada,
Obrigado por ser Maria,
Obrigado por ser Jesus,
Obrigado por ser Salvação,
Obrigado por ser amada,
Obrigado por ser Amanda.

Partida











É chegada a hora,
O último pau-de-arara vai partir. 
Tristeza para os que ficam,
Alegria para os que vão. 

Aos que ficam, como eu, 
Que possamos chorar a dor da saudade. 
Mas que esta dor não se perpetue. 
Que possamos chorar no tempo que é para chorar 
E sorrir no tempo que é para sorrir. 
Afinal, devemos nos alegrar com a felicidade dos que vão. 

Que a tristeza, provocada pela dor da saudade, 
Não nos esconda esta realidade: 
Eles vão felizes, a Casa, a Pátria, a Deus, Adeus!

Praia










Vi uma praia,
A minha praia.
Vi Cristo sorrindo, 
De braços abertos, 
Olhando para mim. 

Ele me abraçou 
E me mostrou, 
Atrás dEle, 
Na areia da praia, 
Um parágrafo, 
O começo de minha história a partir de então. 

Estava em letras graudas, 
Mas não consegui ler o que estava escrito.
Preocupei-me com as ondas
Obstinadas a apagar tudo.

Para meu consolo,
Jesus disse:
Filho, te preocupas em vão,
Tua história está gravada em meu coração.

Suave Presença

Onde está o meu coração? Está em Jesus, está em Maria. Sob os cuidados dos dois. Minha vontade humana é de abandonar tudo. De largar tudo. De ir embora. Viver no meio dos outros está sendo muito difícil. Não consigo sentir nada. 

Mas algo me impede de ir. Sei que neste meu momento de fraqueza, a Graça de Deus abunda em mim, através do Coração de Jesus e da presença constante da Mãe.

E, falando nela, sua doce companhia nunca foi tão sentida. A Mãe que me conduz ao Filho. A Mãe que me protege do leão que me cerca, querendo aproveitar-se de meu momento de fraqueza. É principalmente através dela que a Graça chega nestes tempos ao meu coração. Ela, que neste momento está ao meu lado, sentada neste banco, afagando minha cabeça por meio do vento que bagunça os meus cabelos. Suave presença que me faz chorar. Canal de Graça que Deus usa hoje para chegar ao meu coração. Caminho de Graça que me leva ao Seu Coração.

Anjo












Vi um anjo
Muito alto
Manto longo
Asas enormes
Cabelos compridos. 

Eu estava numa clareira
Ele descia dos céus na minha frente
Possuía uma espada na mão direita 
E queria dar-me algo. 

Despertava em mim um grande temor 
Imponente
Radiante
Grandioso.

O que me deu?
O que recebi?
Ainda não sei
Procuro descobrir.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Ciranda (da Trindade)












No princípio de tudo, o Pai criou tudo
Inclusive nós, que achamos que somos tudo
E fazemos de tudo para termos tudo
Esquecendo-nos que somente o Pai é Tudo
E que tudo é do Pai.

Na plenitude dos tempos
O Pai, que é Tudo, nos enviou o seu Filho,
Que é Único, que é Tudo,
Pra nos mostrar que só o Pai é Tudo
E que o nosso tudo é nada, sem o Pai.

Nós, cheios de tudo,
Não reconhecemos o Filho,
Que é Pleno, que é Tudo,
Achando que Ele não fosse nada
E que nada poderia fazer por nós.

Ele, cheio de Tudo,
Fez-se um Nada,
Para nos ensinar
Que é preciso ser um nada
Para se chegar ao Tudo.

O Filho, sendo um Nada,
Entregou-se àqueles
Que se achavam um tudo,
Obedecendo a vontade do Tudo,
Para salvar a todos.

E como um Nada, morreu numa Cruz
No meio dos que não eram nada
E como um Tudo, venceu a morte
Ressuscitando e aparecendo aos poucos
Que O reconheceram como o Tudo.

Subiu aos Céus, está com o Pai
E enviou o seu Espírito,
Que é Santo, Que é Tudo,
Para nos ensinar a sermos santos,
Sendo nada, conquistando assim o Tudo.

E na nova plenitude dos tempos,
Quando o tudo virar nada,
O Filho voltará, com a Glória do Pai
Para assim pôr termo a esta Ciranda,
A Ciranda da Trindade,
Para outra Ciranda começar.

Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Outra pessoa

As pessoas querem que eu seja uma outra pessoa. Mas como ser uma outra pessoa se sou esta pessoa? Não posso ser outra pessoa. Sou feliz sendo esta pessoa. Acho que as pessoas não são felizes sendo as pessoas que são, por isso querem que as outras pessoas sejam outras pessoas. Ah, pessoas, como deve ser difícil viver querendo ser outra pessoa. Como deve ser difícil jogar no lixo o molde da Criação. Molde único. Molde pessoal. Molde de ser pessoa. Não quero isso pra mim.

Quero apenas ser renovado todos os dias, sem deixar de ser quem sou, por Aquele que consegue ser três Pessoas. Ah, e que Pessoas! Pessoa Criadora. Pessoa Salvadora. Pessoa Santificadora. Eu, primeira pessoa do singular, pessoa criatura da Criação, quero apenas acolher a graça do ser, para que, sendo quem sou, possa vir a ser imagem e semelhança dAquele que É.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Fila









Eis a fila
Fila dos Filhos
Fila dos Irmãos
Fila dos Cristãos
Fila da Salvação.

Antes, a fila da Confissão
Fila da Reconciliação
Fila do Perdão
Agora, a fila do Encontro
E que Encontro!

E vai andando
Lentamente
Pés no chão
Cabeças no Céu
Corações nEle, dEle.

A música tocando
Docemente
Olhos abertos
Olhos fechados
Mãos em ombros.

Chegou a hora
Coração palpitante
Ministro à frente
E Ele, ah, Ele!
O Corpo de Cristo!
Amém!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Murmuração

Não, não dá. Vou desistir. As filas estão imensas! E por que fila? Não tem outro jeito? Por que não vem até nós? Detesto filas. Ainda mais quando são assim, enormes. E são duas! A da direita? Ou a da esquerda? Qual escolho? Ah, não quero nenhuma! Quero ir embora! Não, quero ficar. Ir embora nesta hora não me daria paz. Chegaria em casa arrependido. Não quero fazer algo que me leve ao arrependimento depois. Já me arrependi de tantas coisas nestes últimos dias. Por sinal, foram estes arrependimentos que me ajudaram a conquistar o direito de estar aqui. Vou ficar. E se eu fingir que estou sentindo alguma dor e tentasse tomar a frente das pessoas? Não, que feio! Também me arrependeria por isso. Me arrependo até de pensar nisso. Desculpa, Senhor.

Tá bom, escolho a da esquerda. Ei, por que a da direita está andando mais rápido? Escolhi a fila errada, como sempre! Essa fila não anda? Deve ser aquela mesma velhinha da semana passada. Ela demora muito! Deveria existir uma fila preferencial, só para velhinhos. Não, acho que não é ela. Nossa, a fila tá tão grande que não consigo nem ver quem está lá na frente! Por que as pessoas demoram tanto? É tão fácil! Tão simples! Chega, recebe e pronto! Sai da fila! Ah, meu Deus, o que estou fazendo? Estou murmurando! Até aqui, Pai! Que miséria essa minha! Murmurar é pecado. E agora? Pequei, Senhor. O que fazer? A fila anda. Já começo a escutar o sacerdote anunciando o Teu Corpo. Devo prosseguir? Devo dizer o tão esperado "Amém" e Te receber? Ah, Jesus, que dúvida! Por que murmuro tanto? Jesus? Pode me responder? Nossa, esse padre é tão antipático!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Chão

É, dessa vez demorou, mas veio. A queda veio. Pois é, caí. De novo! E que bom que caí, pois quando caio, me aproximo do chão. E no chão, percebo que não é bom estar no chão. De pé, não temos esta percepção. Somente quando estamos lá, com o nariz no chão. Nossa, como é ruim o cheiro do chão! Mesmo os mais limpinhos, recém-perfumados com aqueles produtos de limpeza de cores chamativas. Aqueles com cheirinho de lavanda.

Não nasci pra ficar com o nariz no chão. Ninguém nasceu pra ficar com o nariz no chão. Somente os cachorros nasceram pra ficar com o nariz no chão. Não sou um cachorro. Sou um homem. Sou filho do Homem. E assumindo essa condição, vou me levantar. Vou tirar o nariz do chão. Vou voltar a ficar de pé. Como? Ah, confissão! Reconciliação! Salvação! Chão? Não, não preciso dessa rima. É na Salvação que essa história termina.

Às Paredes

É, paredes, o dia chegou ao fim. É hora de partir. E digo: Adeus! Ah, Deus! Bendito seja pelas paredes! Acho que foi por isso que o Senhor fez o homem do barro. Para que fosse semelhante às paredes. Paredes que me fazem companhia, que me acolhem, que me entendem. Agora, no derradeiro momento da minha presença, me volto a vós, paredes, e me derramo em despedidas. Ansioso por ir, pois estou cansado. Vou ao encontro de outras paredes, as paredes do descansar. Amanhã, estarei aqui, pra me cansar. Novamente estarei diante de vossa companhia e, no derradeiro momento do amanhã, direi: Adeus! Ah, Deus!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Parto










Minha cabeça está doendo
Serão os espinhos?
Não, esta coroa não é mais usada
Foi vencida por Aquele que a usou
É uma dor diferente
Dor que não dói
Dor de parto.

É a dor da idéia sendo gestada
Tomando forma no ventre da criação
Sendo moldada pelo Criador
Pelo Espírito Santo inspirador
Ele que é o Pai e o Médico
Oleiro exímio
Obstetra sem igual.

Ela vem vindo
E vem sem esperar nada
Só quer nascer
Ser posta pra fora
Já está pronta, formada
Fruto da Graça
Semeado na cabeça humana.

As contrações aumentam
Ela já está em posição
Caneta e papel na mão
Está saindo, está saindo
Força, força
Vai nascer, vai nascer
Nasceu!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O Homem de Barro

E eis que tudo estava criado. Opa, tudo não. Faltava uma planta. Uma planta não, um bicho. Um bicho não, uma coisa. Uma coisa não, um... Bem, não podia descansar, pois estava incomodado com a ausência de uma criatura. Mas o que seria? Deve ter olhos, pra poder contemplar tudo o que foi criado. Deve ter ouvidos, pra que possa Me escutar. Deve ter boca, pra que possa conversar Comigo. Deve ter pernas, pra que possa andar por toda a Terra e explorar os confins da Criação. Deve ter braços e mãos, pra poder cuidar de tudo. Deve ter inteligência, pra discernir o certo e o errado, pra criar e pra governar. E, claro, deve ter um coração, pra que possa Me amar e amar todas as criaturas - Assim pensou o Criador. Retirou um espelho do bolso e então fitou Sua Sagrada Imagem. Já sei! - Disse o Onipotente - Farei algo à minha imagem e semelhança! Um amigo, um filho! O esplendor da Criação! A minha obra-prima! Mas como o farei? Que substância utilizarei?

Como um excelente oleiro que É, juntou um pouco de barro e começou a modelar. Ao final, soprou nas narinas da forma criada o sopro da Vida e disse: Terás no teu íntimo a minha essência, para que Eu esteja sempre em ti e tu sempre em Mim. E quando quiseres ter Comigo, buscar-Me-ás, em primeiro lugar, dentro do teu coração. A criatura então abriu os olhos e levantou-se, fitando o Criador, que disse: Do pó tornei-te homem e por nome te chamo Adão. E pra completar tua feitura, dar-te-Ei um presente: recebe a liberdade, o livre-arbítrio, pra que não se sinta preso às minhas vontades. Mas usa-o com sabedoria!

Contemplando a obra acabada, olhou pra uma das costelas da criatura e disse: Hum, tive uma idéia!
Mas aí é outra história...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Jesus Aprontando

galo

O Sol raiando
O vento soprando
O orvalho pingando
Os pássaros gorjeando
É Jesus aprontando!

O gato miando
O cachorro acordando
O galo cantando
As galinhas ciscando
É Jesus aprontando!

O mato perfumando
O gado pastando
A chuva ameaçando
A raposa se casando
É Jesus aprontando!

O sabiá sabiando
A manga amarelando
O caju avermelhando
O bicho-de-pé coçando
É Jesus aprontando!

A tapioca assando
O café cheirando
O bebê chorando
A mãe acalentando
É Jesus aprontando!

O sino badalando
O padre chamando
Os fiéis andando
Minha vó rezando
É Jesus aprontando!

Eu despertando
Da rede levantando
O corpo esticando
E tudo contemplando
É Jesus me amando!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O Telefone de Jesus

Do Gênesis ao Apocalipse
Da Criação à Revelação
Da Introdução à Conclusão
Livro por livro
Capítulo por capítulo
Versículo por versículo
Termino a leitura
Cansado e confuso
Sem encontrar aquele número
Que tanto procuro.

Nos Jardins, conversei com Adão
E com Noé, na sua embarcação
Na Caldéia, perguntei a Abraão
E a Isaac, após a sua salvação, de um punhal que o pai tinha na mão
Com Jacó não me foi permitido, pois chorava o filho perdido
E José, o menino perdido, encontrei-o no Egito, do faraó um protegido
Não pôde ajudar, pois tinha como missão, um sonho para interpretar
Com Moisés fui falar, mas o homem era gago e não quis demorar, pois estava em fuga com o seu povo, rumo ao Mar
Josué não me deu atenção, pois marchava com uma trombeta na mão, a fim de derrubar os muros de uma grande região
Lutei com Gedeão e com Sansão, a fim de arrancar-lhes uma simples informação, mas fui vencido pela coragem e pela força de crias de um leão
Recorri a Heli e a Samuel, mas o primeiro já havia morrido e o último estava esbaforido, em busca do rei escolhido
Saul, após sua coroação, me disse que perdera o número e com o Homem já não tinha comunicação
Davi, de menino minguado a guerreiro invejado, me deixou falando solitário, pois ao trono fora chamado
Salomão, com sua divina sabedoria, não deu sua opinião, pois ocupava-se com o grande templo, que estava em construção
Isaías, Ezequiel, Jeremias e Daniel, recorri, sem sucesso, àqueles que mais telefonavam para o Céu.

Então fui além e no Novo adentrei
Dei de cara com um tal Herodes e pra este não perguntei,
Pois andava à procura dAquele, do nosso Menino Rei
Encontrei os Três do Oriente, que também eram reis
Me indicaram uma estrela e seguiram sua partida
Pois de número não sabiam e sua missão fora cumprida
Pela Galiléia então vaguei
Cegos, prostitutas e cochos interroguei
Fiscais do imperador e até os empregados do rei
Os fariseus eu evitei, pois estes não davam valor
Aquele que é o nosso Salvador
Os Doze então encontrei
E nenhum deles me disse o que não sei
Os discursos de Pedro escutei
Com as cartas de Paulo me deparei
E nas visões de João finalmente cheguei.

Terminadas as sagradas escrituras
Recorri, em oração, à Mãe cheia de Graça e de Ternura
Pra perguntar, cheio de esperança, sobre o objeto da minha procura
A Mãe, com candura, me disse que de número não lembrava
Pois está sempre com o Filho e, por isso, pra Ele nunca telefonava.

Agora, desnorteado e sem ter a quem recorrer,
Cansado de ler e de tanto escrever
Dotado apenas da Fé que me conduz
E do Espírito que é a minha Luz
Humildemente pergunto a você:
Qual é o número do telefone de Jesus?

Maninha

* Em homenagem a minha querida irmã.












Chegou num repente
No meio da gente
Brotou como semente
No coração da gente

Criança sapeca
Menina moleca
Cresceu da noite para o dia
E escolheu a Psicologia
Como via de Cruz

Morena clara
Olhos de luz
Será ela a mãe de Jesus?

É não!
É Mãezinha do Leo
Esposa do Raphael
Karla, Karlinha
Minha Maninha
É pedra preciosa
Que caiu do Céu.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Nas asas da palavra (Minha Missão)












Pra longe eu vou
Nas asas da palavra eu vou
Sem pressa, com calma, eu vou.

E com Jesus eu vou
Sem Ele não vou
Fico em casa e acabou
Pois sem Ele nada sou.

Na frente Ele vai
Com as mãos nas rédeas Ele vai
Pois na garupa já não dá mais
Sou eu quem vai atrás.

Lançando redes, semeando campos
Carregando cruzes, ressuscitando sonhos
Nas asas da palavra nós vamos.

Jesus e a Matemática

Amanhã vou ao Céu
Vou falar com Jesus
Levando um caderno e um lápis
Uma borracha e uma tabuada
Ensinar-Lhe o pouco que sei das operações da Matemática
Pois me parece que deste assunto Ele não sabe nada.

Não falo dos logaritmos nem da raiz quadrada
Nem das potências e nem dos juros compostos
Nem dos polinômios tampouco dos números complexos
Falo dos simples cálculos aprendidos pela meninada.

Acho que na infância Ele não teve tempo
Na folga da carpintaria andava nos templos
Ensinando os sábios e os sem conhecimento
Através de parábolas e das sagradas escrituras
Que já sabia ler com tão grande desenvoltura.

Somar, Subtrair, Multiplicar e Dividir
Tais os ensinamentos que vou Lhe instruir.

Digo que não sabe e agora vou provar:
Como pode cinco pães somados com dois peixes e multiplicados por nada alimentar uma multidão?
Como pode, no caso daquela velhinha do templo, uma pessoa dar tudo o que tem e ganhar o Tudo? Até onde sei, tudo menos tudo sobra nada.
Como pode um único Cristo, na Eucaristia, se dividir em vários e todos receberem a mesma quantidade do todo?

Ah, Cristo, deixa estar
Amanhã vou te ensinar!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Homem de Pedra

Então voei
Voei e voei
Voei tanto que cansei
Então pousei
Num ombro de pedra
De um Homem de pedra
Com um manto de pedra
Braços abertos de pedra
Sobre uma montanha de pedra

Lá em baixo, uma cidade de pedra
Meninos de pedra
Com corações de pedra
Com sonhos de pedra
Com armas de pedra
Com balas de pedra
Vendendo pedras

Ah, Homem de pedra!
Tende piedade
Dos teus filhos de pedra.

Os Sessenta do meu Pai

* Em homenagem aos 60 anos do meu pai, completos no dia 02/11/2010.












Ah, como Deus é bom!
Da noite fez o dia
Do Cristo a Eucaristia
Da Graça fez Maria
E de uma Maria fez meu Pai.

Da serra, um rebento
De cassaco, o sustento
Das galinhas, o alimento
Da propaganda, o conhecimento
Aprendendo tudo sobre medicamento.

De Altemar, uma cantiga
Da pressão, uma amiga
Da farmácia, uma vida
De um cantinho, o coração.

Pra Mundoca fez um filho
Pra Fátima um marido
Pra Karla um querido
E pra mim um amigo.

Ah, se Deus permitir!
Se este seis virar de ponta pra baixo
E um nove se tornar
Sessenta já não será
Mas noventa, que alegria, meu Pai completará!

Conversa a Quatro

Jesus, como sempre, falante.
E falava de tudo, de um jeito todo especial.
Afinal, Ele é a Palavra em pessoa.
O Verbo, o Substantivo.
O Sujeito e o Predicado.
O Objeto Direto e o Indireto.
O Início e o Fim.

Sua voz chegava aos lugares mais íntimos do coração,
Transformando tudo,
Renovando tudo.
Vez ou outra fazia uma pausa.
E um silêncio profundo reinava.
Às vezes é tudo o que precisamos ouvir: o Silêncio.
Silêncio que também transforma, que também renova.
Tudo é graça!
Mas logo retomava o discurso e a conversa continuava.

A Mãezinha babava ouvindo o Filho falar.
Terço na mão, manto azul, véu branco como a neve.
Que linda!
Um cheiro de rosas no ar.
Cheiro de mãe.
Cheiro da Mãe.
Quando falava, também encantava.
Terá o Filho aprendido com Ela?
Ou foi Ela que aprendeu com o Filho?
A cronologia de Deus às vezes confunde.
Afinal, o tempo dEle é muito diferente do nosso.
E Ela doce, meiga.
Tão rainha e tão vassala.
Contrastes do Céu.
Só Ela interrompia o discurso do Filho,
Pra interceder por alguem além de nossa conversa.

Meu Anjo, ao meu lado, com os olhos fixos no Senhor.
Que exemplo de Adorador!
Quase não falou.
E quando voltava-se para a Mãe,
Fazia uma reverência digna de um bom súdito.
Amigo fiel,
Mensageiro de Deus.
Não saiu do meu lado um só minuto.

E eu? Ah, eu!
Era só alegria, diante de tão elevada companhia.
Não sabia se falava ou se só ouvia.
Esquecendo de ser Marta, aprendendo a ser Maria.
Desejando a graça da Sabedoria, do Amor e do Perdão, que emanava de tão Santa Reunião.

E a você faço um convite.
De desfrutar também de tão sagrada conversação.
Na Igreja mais próxima ou na capela ao lado.
No vazio da sala ou no escuro do quarto.
Em todo canto é possível uma conversa a quatro.

A Borboleta e a Flor

* Em homenagem a duas pessoas muito especiais.












Haverá dupla que inspire mais amor?
A Borboleta e a Flor.
O que seria da Borboleta sem a Flor?
O que seria deste Poeta sem a Borboleta?
O que seria do mundo sem as duas?

Ah, se existissem mais Flores!
Existiriam mais Borboletas.
Existiriam mais Poetas.
Existiriam mais Amores.

Folha Seca

Eu, semente pequena que era, fui lançada à terra por uma Mão maior do que a minha compreensão. A terra me acolheu e no seu seio fiz morada.

A Mão que me lançou, lá do alto chorou e molhou a minha casa. Quando menos esperei, eis que eu brotara.

Veio mais choro, veio o Calor, veio o Vento. Os anos passaram e fui crescendo. Logo me tornei maior do que o menino, do que o homem, do que a casa. Fiquei tão alta que, se pudesse esticar minhas pernas, poderia tocar o Céu. Acho que foi de lá que eu vim. Mas não posso esticá-las. Estou presa à terra que me acolheu. As adversidades do tempo e da vida endureceram a minha casca, me tornando ainda mais presa.

Hoje, adulta que sou, sem esperar mais nada da vida, fui surpreendida: eis que veio um Vento e arrancou de mim um pequeno pedaço, uma folha, seca pelo calor dos últimos dias. A folha foi então levada a uma pessoa que se abrigava à minha sombra, tocando-a. Ao tocá-la, vi a mesma Mão que me lançou, lançando sobre ela a Graça que me fez crescer. Assim, surge em mim uma nova esperança, a de que esta pessoa, tocada por minha folha e pela Mão que me criou, estique as pernas que não posso esticar, sendo folha seca para a outros poder tocar e, no fim, ao Céu poder chegar.

"Como folha seca quero ser para Ti Senhor
Folha livre e dependente do vento para seguir.
Folha que não luta e se deixa levar
Assim quero ser Senhor
E em Ti me lançar."

A Caixa do Nada

Segundo a opinião de algumas mulheres, a cabeça do homem é constituída por caixas. Dentre estas, existe a Caixa do Nada. E esta existência é facilmente comprovada. Quantas e quantas vezes nós homens, ao sermos questionados por nossas digníssimas sobre o que estamos pensando em um determinado momento, ficamos sem resposta? E não é porque estamos querendo esconder pensamentos indevidos. Realmente não sabemos o que estávamos pensando. Eis aí a Caixa do Nada! Local onde nós homens gastamos algum tempo de nossa vida, sem que percebamos.

No segundo Retiro Vocacional de 2010, da Comunidade Católica Recado, da qual faço parte, descobri, durante um momento de deserto, algo que me surpreendeu. Decidido a usar e abusar da referida caixa, por estar cansado de tanto pensar e escrever, fui para o momento que nos foi direcionado. Sentado em uma cadeira, debaixo de uma grande árvore, destampei a caixa e mergulhei de cabeça (literalmente). Eis que lá dentro, também sentado em uma cadeira, encontro um outro homem, Jesus! Ele sorriu pra mim e, carinhosamente, tomou o meu caderno, minha caneta e anotou tudo o que eu precisava saber naquele momento.

Uma pena minha digníssima não estar no retiro. Pois se ela estivesse e viesse me perguntar: O que você estava pensando? Eu de pronto responderia: estava pensando em Jesus!

Bendito seja Ele por nos presentear com a Caixa do Nada!

"Senhor, vós me perscrutais e me conheceis, sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto. De longe penetrais meus pensamentos." (Salmo 138, 1-2)

"Poderá um homem se ocultar de tal modo que eu o não veja? - oráculo do Senhor.
Porventura não enche minha presença o céu e a terra? - oráculo do Senhor." (Jeremias 23, 24)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Deserto

A noite é escura, o vento é frio. Areia por todos os lados. Nada de água, nada de plantas e nem de nenhum ser vivente. Uma solidão profunda. Estou de joelhos, de cabeça baixa, esperando. Estou triste, angustiado? Não. Estou em paz. Apesar de não vê-los, sei que estão ao meu lado, me sustentando. Ele e Ela. O Filho e a Mãe. Quando chegar a hora, ficarei de pé, levantarei a cabeça. O Sol nascerá, brilhando muito forte, anunciando um novo amanhecer. Verei então o grande mar que a graça de Deus derramou atrás de mim.